
Taxa de câmbio será liberada 'com o tempo' na Argentina, diz presidente do BC

A livre flutuação da taxa de câmbio na Argentina "ocorrerá com o tempo", sem uma data que gere "ansiedade" e "incerteza", afirmou, nesta quarta-feira (23), Santiago Bausili, presidente do Banco Central do país, durante um ato no FMI, em Washington.
Em uma sala lotada, Bausili explicou os desafios do programa de ajuste econômico do presidente ultraliberal Javier Milei.
"A Argentina tinha ficado sem opções" e o "banco central imprimia dinheiro constantemente por duas razões: para financiar o Tesouro e para pagar juros sobre seus próprios títulos", começou dizendo no Fundo Monetário Internacional.
Seria preciso tornar o peso mais atraente. Ao invés de optar pelo método tradicional, que é "aumentar os juros e dizer às pessoas para manter esta moeda, porque ao final do ciclo ficarão mais ricas" e receberão juros, "adotamos uma postura muito agressiva".
O Banco Central argentino levou "as taxas de juros a um terreno negativo em termos reais, o que era arriscado, mas confiamos no fato de que tínhamos controles de capital fortes e pensamos que a proposta de escassez seria mais atraente", explicou Bausili.
As taxas de juros negativas buscam que os investidores e as empresas invistam mais ao invés de acumular capital.
"Começamos desenhando o programa com uma suposição muito forte, que é não temos nenhuma credibilidade (...) Não importa quem esteja no cargo, quem desenhou o programa, quem está dizendo o que, zero credibilidade. E a credibilidade é uma ferramenta política extremamente poderosa", disse Bausili.
Sob o governo de Milei, a Argentina entrou em uma nova etapa do programa de ajuste.
"Nós a chamamos de fase três. É como o iPhone", brincou Bausili.
O país, cronicamente endividado, conta com uma ajuda para seu plano de estabilização econômica: já recebeu do FMI US$ 12 bilhões (R$ 68,2 bilhões, na cotação atual), a primeira parte de um empréstimo de US$ 20 bilhões (R$ 113,7 bilhões).
Se forem somados os recursos empenhados pelo Banco Mundial e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Argentina terá um total de 42 bilhões de dólares (R$ 238,8 bilhões).
Esta nova injeção de dinheiro deve permitir estabilizar o peso e continuar com a queda da inflação, de 211% ao ano no fim de 2023 para os atuais 59%.
Em troca, o governo suspendeu muitos controles cambiários em vigor desde 2019.
E introduziu um novo esquema de flutuação em bandas para a cotação do dólar, com um mínimo de 1.000 e um máximo de 1.400 pesos, cujos limites serão ampliados ao ritmo de 1% ao mês.
"Quando vai flutuar livremente? Vai acontecer com o tempo. Não há uma fase adicional para a livre cotação. Não há uma etapa posterior que gere ansiedade e que cause incerteza", prometeu Bausili. "Continuamos tendo restrições porque ainda existem desequilíbrios", acrescentou.
Porque "se você não tem credibilidade (...) só deveria dar um passo à frente quando estiver extremamente certo", concluiu na conferência com o diretor do FMI para a América Latina e o Caribe, Rodrigo Valdés, muito criticado por Milei.
I.Sanders--SFF