
Governo espanhol cancela compra de munição israelense sob pressão da esquerda radical

O governo espanhol decidiu rescindir um contrato de compra de munição de uma empresa israelense, cedendo à pressão do partido de esquerda radical que divide o poder com os socialistas.
O cancelamento do contrato de compra de munição da empresa israelense IMI Systems por 6,8 milhões de euros (cerca de 43,8 milhões de reais) foi aplaudido por Yolanda Díaz, número três do governo e figura de destaque do Sumar, partido que governa ao lado dos socialistas de Pedro Sánchez.
A Espanha não pode fazer "negócios com um governo genocida (...) que está massacrando o povo palestino", disse Díaz aos repórteres e acrescentou que negociou com os ministros socialistas do Interior e da Defesa para suspender o contrato.
O Sumar sofreu um revés na terça-feira, quando o Conselho de Ministros aprovou, apesar da oposição da esquerda radical, um plano de 12 bilhões de dólares (68,2 bilhões de reais) para aumentar os gastos militares espanhóis para 2% do PIB, conforme exigido pela Otan.
Um novo golpe teria sido muito duro para o partido, especialmente devido à sua rivalidade com o Podemos, formação que antes governava com os socialistas, mas que hoje, fora do Executivo e reduzido a quatro deputados, quer se reposicionar como líder da esquerda radical.
O contrato com a IMI Systems "violava o direito internacional", disse Díaz, chamando a situação em Gaza, onde as operações militares israelenses continuam, de "genocídio".
"O compromisso com o povo palestino é absoluto e não há relativismo na defesa dos direitos humanos", acrescentou.
O governo de Sánchez, que fez do apoio incondicional à causa palestina um dos principais pilares de sua política externa, reconheceu oficialmente a Palestina como um Estado em maio, o que prejudicou suas já precárias relações com o governo israelense de Benjamin Netanyahu.
- "Quem vai pagar?" -
Na quarta-feira, fontes do Ministério do Interior disseram que o contrato com a empresa israelense ainda era válido, já que os serviços jurídicos do Estado desaconselharam sua anulação pois isso significaria pagar o dinheiro sem receber o material.
Nesta quinta-feira, fontes do governo, que confirmaram a anulação do contrato, disseram que o Ministério Público e os ministérios envolvidos "já estudam possíveis respostas e reivindicações judiciais".
Alberto Núñez Feijóo, líder do Partido Popular (PP, direita), o principal partido da oposição, criticou duramente o governo de esquerda.
"Quando um Estado faz um contrato com outro Estado, esse contrato deve ser honrado", disse Feijóo, referindo-se ao fato de a IMI Systems pertencer ao Estado israelense.
"Quanto vale a rescisão desse contrato? Quem vai pagar pela rescisão desse contrato?", perguntou.
No entanto, para os socialistas, o mais importante era acabar com a controvérsia com seu aliado de esquerda radical e restaurar uma aparência de estabilidade dentro do governo.
"Não há nenhuma crise no governo", afirmou Díaz antes mesmo da anulação do que ela mesma descreveu nas redes sociais como um "contrato da vergonha".
J.Martinez--SFF